Seu nome era Emma

Foto por: Lauren Withrow (NY, USA) -  From Seperation series, 2010 

Seu nome era Emma. Era assim que todos a chamavam, de qualquer forma. Às vezes a chamavam de Em, às vezes acabavam chamando de Emily. Ela era parte do nosso grupo de amigas crescendo juntas na mesma cidade – não tão grande para ser considerada uma metrópole, mas grande o bastante pra possibilitar a privacidade entre os vizinhos.
Nós nos chamávamos “Indestrutíveis Seis”, pois havia eu, Summer, Mel, Nina e Jules. E havia Emma.

Emma começou como uma piada das meninas, na quarta série. Provavelmente foi Jules quem começou. Ela estava sempre pregando peças nas pessoas. No colégio ela chegou a ser suspensa uma vez, por ir muito longe com uma dessas brincadeiras, tendo que trabalhar como babá por horas pra comprar um celular novo pra uma garota. Ou talvez tenha sido Summer, que parecia sempre estar muito ocupada com música e a banda pra pensar numa brincadeira tão elaborada. Ou ainda Mel e Nina, que eram melhores amigas e poderiam viver sem o resto de nós, sempre conspirando juntas, como se fossem irmãs gêmeas.

De qualquer forma, naquele dia eu comprei meu almoço, um sanduíche frio e palitos de cenoura, e um pouco de suco de laranja e fui para a mesa. Jules parecia animada, acenando pra mim.

“Lotte! Olha!” Não tinha certeza de pra onde eu deveria estar olhando. “Essa é a Emma. Ela se mudou de Los Angeles!” Nós morávamos mais pro interior. Los Angeles era extravagante e chique comparada com as casas simples e o futebol meia boca de colégio, que era a única fonte real de entretenimento na área.

“Uh, o quê?”

“Los Angeles, boba”,  Jules disse, rolando os olhos. “Ela não está na nossa sala, está na da Srta. Lark, mas é da mesma série que a gente! Não é legal?”

Eu ainda não tinha certeza de pra onde deveria estar olhando. Sentei-me com minha bandeja, inquieta, me perguntando o que eu deveria estar vendo. “Quem?”

Summer me cutucou de lado. “Você está sendo rude” ela sussurrou. Summer era toda cheia de regras e etiqueta. “Diga olá para a Emma.”

Eu olhei ao redor da mesa, de Jules a Mel a Nina e Summer e de novo Jules, que estava esperando impaciente. Eu sei lá, eu era boba, queria me encaixar. Não entendi aquilo.

“Oi Emma.”

Elas pareceram dar um suspiro coletivo de alívio, como se eu estivesse constrangendo a todas. “Charlotte é estranha às vezes, mas o irmão dela tem um Nintendo e nos deixa jogar de vez em quando.”

Elas continuaram falando, conversando sobre qualquer coisa que garotas da quarta série conversam, e eu ignorei. Se elas queriam fazer uma brincadeira, então tudo bem. Eu não ia cair naquela. Sempre fui uma criança precoce, eu sabia que o que elas queriam era uma reação.

Foi assim que Emma se tornou uma parte de nossas vidas. Era bizarro. Nós comprávamos presentes no aniversário dela e eles desapareciam como se tivessem sido recebidos.  Imagino quantos kits de fazer velas e jogos  Jules já tinha empilhado no guarda-roupa depois de tantos aniversários. Certo ano Mel comprou pra Emma um lindo colar e ele também desapareceu.

Nunca fomos a casa dela. Eu perguntei pra Nina sobre isso quando tinha certeza que “Emma” não estava presente. Ela me olhou chocada “Lotte, não seja grosseira. A família da Emma não tem muito dinheiro, ela fica envergonhada de nos convidar. Ela contou isso pra Mel, que me contou, e faz sentido. Quer dizer, as roupas que ela veste o tempo todo...Nós ainda a amamos, claro,  sempre vamos amar, ela é uma de nós. Mas não fique falando sobre a casa dela. É maldoso.”

Depois de ter sido repreendida tão carinhosamente por Nina, eu não perguntei novamente. Elas estavam cobrindo suas bases muito bem e na sétima série, eu tive que aceitar que elas iriam continuar com aquilo por um bom tempo.

Era estranhamente reconfortante de certa maneira. Havia essa amiga silenciosa que eu nunca vi, mas estava sempre por perto. Nós guardávamos lugar pra ela e coisas assim. Então quando decidimos que íamos ser bobas e inventar um nome pro nosso grupo de amigas, decidimos por “Indestrutíveis Seis”, apesar de só haver cinco de nós.

No segundo ano do ensino médio eu fiquei curiosa durante uma festa do pijama. Summer estava no ensaio da banda e Emma não pode ir, tinha que trabalhar em seu projeto de ciências, segundo Mel. Então eu aproveitei pra perguntar pra Jules, a provável mente por trás de tudo. “Se você fosse escrever uma história sobre a Emma, tipo uma biografia, como você a descreveria? Nos mínimos detalhes!”

Jules adorava esse tipo de coisa. Queria ser uma escritora algum dia. “Bem, ela é mais alta que você, o que não é difícil” Eu joguei um travesseiro e ela se esquivou. “Tem o corpo comum —“ Jules abaixou o tom de voz pra um sussurro, “— Mesmo tendo mudado muito ultimamente, mas não dizemos nada, afinal ela continua linda. E...ela tem aqueles olhos verdes, cabelo castanho, e sardas! Odeia que tirem fotos dela. Ela é ótima, mas muito quieta, e dança lindamente, quer dizer, você já viu ela dançar, não é?” É claro que eu tinha visto, naquele dia, alguns meses atrás, quando colocamos música e dançamos juntas pra praticar a dança do baile, assim não pareceríamos estranhas ou faríamos algo errado. Paramos e olhamos um pouco, fazendo “ooohs” e “aaahs” para o espaço vazio por um tempo.

Não fiz mais perguntas. Sabia que elas continuariam com aquela charada enquanto fosse possível.

Foi no último ano do colégio que aconteceu. Não sei o que foi que me tirou do sério, não mesmo. Mas foi algo pequeno, algo estúpido. Estávamos na casa da Nina, na piscina, apesar de ainda estar muito frio pra nadar. Dentes batendo e arrepios na espinha, ficamos esperando a Jacuzzi aquecer pra pular dentro. A luz fria do sol jogava uma extensa sombra, e aquilo estava me irritando por razões que eu desconheço.

“Olha a Emma, Lotte!” Jules gritou. Assobiou como se fosse um lobo, bem exagerada, como de costume. “Minha nossa, olha essa bunda!”

Eu não sabia pra onde olhar, como sempre. Como nos últimos nove anos da minha vida, eu não sabia pra onde olhar. Desde a quarta série, na mesa do almoço, dançando na casa da Summer, no bailer, jogos de futebol, no parque, na aula, qualquer lugar: eu não sabia pra onde olhar, pois Emma não estava lá.

Foi quando eu surtei.

“Foda-se a Emma!” Eu gritei. “E fodam-se todas vocês! Estavam esperando por isso! O momento em que eu perderia a porra da minha cabeça! Bem, aqui está!” Eu balancei os braços, maníaca e furiosa. “Emma. Não. É. Real!”

Eu olhei pros rostos confusos delas. “Ah, vocês vão continuar com isso? Eu odeio vocês,  sempre me fazendo o alvo das suas piadinhas por dez anos, galera! DEZ ANOS!” Eu escorreguei um pouco no concreto molhado, mas recuperei o equilíbrio. “Fodam-se, eu odeio vocês.” Lágrimas brotavam nos meus olhos, anos e anos de frustração finalmente transbordando. “Emma foi uma pegadinha sem graça que saiu de controle e eu não acredito que nenhuma de vocês nunca teve coragem de me contar que era uma porra de uma brincadeira! Não, tinha que continuar, vocês tinham que continuar rindo de mim pelas costas! Não é justo!”

Summer estava furiosa. “Lotte, não faz merda. Emma está bem ali e você está sendo uma idiota, pra que fazer isso? Ficou louca?”

Mel falou numa voz baixinha. “Lotte, você também está uma gata, quero dizer, você também está ótima em sua roupa de banho.”

“É, não tem porque descontar sua raiva na Emma, meu deus.” Disse Nina, rolando os olhos. Nina foi até o lado da piscina e estendeu a mãe, como se estivesse acariciando as costas de alguém. “Tudo bem, Emma. A Lotte está sob muito stress ultimamente, tentando descobrir pra qual faculdade vai.”

“Cala a boca!” Eu berrei. “Chega, chega, chega! Emma não é real! Ela não está aí! Como vocês podem fazer isso comigo?”

Então elas começaram a parecer preocupadas. Estavam muito empenhadas nessa pegadinha, e eu me perguntei como seria o ato final. Quando elas iriam começar a rir, quando iriam pular e dizer “Te pegamos!”

Eu tive o bastante daquilo. Se elas queriam brincar de charadas, então nós íamos brincar.

O que veio a seguir é um borrão. Não me lembro direito, nem mesmo hoje. Mas andei até onde Emma supostamente estava e comecei a chutar o ar. Ouvi um grito e escorreguei no concreto molhado, batendo a cabeça. Havia sangue por toda parte. Havia tantos gritos, mas eu continuei chutando e socando e lutando até que apaguei completamente.

Acordei um dia depois no hospital. Meus pais estavam lá, e também minhas amigas. Estavam pálidas e cansadas, com uma aparência miserável. Meu coração apertou. Devo ter dado um susto nelas. Quando meus pais saíram do quarto, Jules se aproximou e pegou minha mão. Ela começou a chorar, e as outras choraram também. “Sinto muito, Lotte”, ela chorou. “Sinto muito mesmo.”

Era quase que assustador ver como minhas amigas estavam. Estavam fora de si na privacidade do quarto do hospital. Eu comecei a chorar também. Não sabia porque, mas comecei a pedir desculpas também, como se nós todas pedíssemos desculpas, tudo voltaria ao normal. “Sinto muito,” lamentei.

Summer era a única que não parecia ter me perdoado. Ela me olhou, olhos e rosto vermelhos e molhados, e disse: “Sente mesmo?”

Não precisei responder. A enfermeira entrou pra trocar meus curativos.

Pelo resto do ano ninguém mencionou Emma. Ela pertencia ao nosso estrito grupo de amigas, então ninguém falou dela. Um dia um policial apareceu para falar com o diretor, e Mel e Nina rapidamente nos levaram pra longe.

Depois do acidente, eu me afastei de todo mundo. Não falava com ninguém. Não fui ao recital da Summer, ou ao aniversário da Mel, nãoo fiz nada. Não fui ao baile, ficava apenas encarando o teto, me perguntando o que havia acontecido. Emma fez parte da minha vida por um bom tempo, e agora parecia um fantasma.

Terminei o ensino médio e me mudei imediatamente, para estudar em uma universidade no sul da Califórnia, onde o tempo era sempre perfeito e a praia ficava a cinco minutos de caminhada. Comecei a me recuperar. Percebi que estava deprimida depois do que aconteceu, percebendo que minhas amigas escolheram uma piada ao invés de mim. Indestrutíveis Seis, é, sei.

Consegui boas notas, voluntariei num abrigo de animais e encontrei um namorado. Ele era tão bom pra mim, mesmo quando eu ficava quieta se ele falasse do colégio. Nunca me pressionou nos meus maus dias e me fazia panquecas.

Quatro anos depois, quando eu estava quase me formando, esbarrei numa colega de classe do ensino médio. O nome era Annie. Ela saia com uma turma diferente da minha e das minhas amigas, como a maioria; As Seis — cinco — de nós eram um grupo a parte, separado de todos os outros.

Eu encontrei Annie no condomínio em que morava. Acabei descobrindo que ela também morou lá todo esse tempo e eu não sabia. Nós não éramos amigas, mas eu reagi como esperado quando se vê alguém que não via há muito tempo.

“Nossa, faz tanto tempo!”

“Oh meu deus!”

Fui ao apartamento dela pra um café e vi que ela estava embalando as coisas da casa. “Voltando pra casa enquanto não encontro um emprego, ugh.” Vi um livro grosso no sofá. “Ah, é o anuário do ensino médio! Eu estava arrumando as coisas quando o encontrei na prateleira.”

Na época eu não me importei em pegar um anuário. Não tinha nenhuma amizade no final do ensino médio. Mas fiquei curiosa para ver como eu era naquele tempo, se mudei muito. Abri na primeira página e fiquei imediatamente confusa.

“Para Emma?” Eu li a primeira página em voz alta. Era uma dedicatória. Minha mente se revirou; “Havia alguém chamada Emma no nosso ano?”

“É, bem triste o que aconteceu com ela.” Annie disse, me entregando uma xícara de café.

Olhei o anuário, procurando traços da Emma. Então, eu encontrei. Meu coração parou, a boca secou e minhas mãos tremiam com o livro, olhando para a foto.

Era uma foto das Indestrutíveis Seis. Estávamos com os braços passados nos quadris e ombros umas das outras, bem juntinhas para a foto. Havia Summer no fim, eu, Jules, Mel, e depois Nina e depois...

Eu nunca tinha visto aquela garota antes. Nunca. Mas lá estava ela. Não consigo nem me lembrar de ter tirado essa foto. Ela estava bem ali. Olhos verdes, cabelos castanhos, gordinha, sorriso tímido, uma blusinha e um jeans rasgado, olhando diretamente para a câmera, como o resto de nós. Parecia tão normal quanto poderia ser uma garota adolescente.

Annie olhou sobre meu ombro. “Ah, aí está, todas vocês. Como vocês se chamavam mesmo?”

“O que aconteceu com ela?” Eu não conseguia sequer tocar a foto, apenas pairava um dedo trêmulo sobre o rosto dela.

Annie ficou em quieta. “Bem, eu acho que você não deve se lembrar bem, depois do machucado na sua cabeça...e você meio que se afastou de tudo. Mas Emma desapareceu. Do nada. Os policiais apareceram, fizeram algumas perguntas, mas os pais dela eram pobres e drogados, então ninguém deu a mínima. Só mais uma garota que desapareceu.”

Eu deixei Annie e fui para o meu apartamento, o que eu dividia com meu namorado. Ele deu uma olhada no meu rosto e começou a ferver água para um chá, pegou um cobertor e jogou sobre meus ombros. Eu deixei ele de lado e me tranquei no quarto, encarando o teto. Eu tinha dezoito outra vez, perdida e confusa.

Os olhos verdes da garota me assombravam, os olhos de Emma.

Dei uma olhada no facebook e consegui achar minhas antigas amigas, minhas melhores amigas, e disse: “Por favor, me encontrem na cidade. É importante.”

Retornei a nossa pequena-grande-cidade, fui ao novo Starbucks e esperei. Elas surgiram, uma por uma; Jules, uma blogueira que trabalha em um restaurante italiano enquanto espera uma oportunidade de brilhar. Summer, no acampamento de bandas, recrutando crianças para os shows. Nina, a bibliotecária sexy no antigo colégio. Mel, a barriga crescendo com o segundo filho, aliança na mão esquerda do amor do ensino médio.

Minhas amigas não eram as mesmas, nem eu. Fui direto ao ponto, não podia perder tempo com trivialidades: “O que aconteceu com a Emma?”

Elas trocaram olhares inquietos. Sabiam que eu falaria disso. “Nada.” Jules disse. “Emma não era real.”

“Ela era só um truque.” Nina disse, delicada. “Ela era uma brincadeira.”

Eu imaginei que elas viriam com essa história. Tirei de dentro da bolsa o anuário e joguei na mesa, derrubando uma das bebidas, mas ninguém se moveu pra tentar pegar. Elas encararam o anuário. “Emma era real.” Eu sussurrei. “Ela era real. O que aconteceu com ela?

“Nada—“

“Corta essa, Jules,” Summer chiou e então se virou pra mim. “Lotte, você matou a Emma aquele dia na piscina. Você surtou e chutou ela e continuou chutando até cair e bater a porra da sua cabeça no chão, e você acertou a cabeça dela e ela caiu na piscina e era tarde demais pra salvá-la e tínhamos que nos preocupar com você e—“

“Summer!” Jules gritou, batendo no braço dela. Eu estava em silêncio, absorvendo o que Summer havia dito.

Mel falou numa vozinha. “Lotte...não íamos deixar você ir pra cadeia.”

Olhei para elas, lágrimas rolando pelo meu rosto. “Por quê?”

Nina estendeu a mão e pegou a minha. Apertou, forte. “Porque somos as Indestrutíveis Seis. Nós não quebramos porque uma de nós surtou e a outra morreu.”

Pedi licença pra ir ao banheiro e fiquei lá pelo que pareceram horas, chorando. Não podia ter sido tanto tempo, mas havia batidas furiosas na porta de outros clientes que queriam usar o banheiro. Sentei-me no chão sujo, soluçando, e fiquei lá até colocar tudo pra fora.

Saí e vi minhas amigas – minhas melhores amigas – ainda me esperando. Me sentei e as encarei. “Eu quero me entregar.”

Houve uma chuva de diferentes respostas. Summer parecia concordar com a ideia, pronta pra ver eu me entregar pra polícia.  Jules gritou sobre colocar todas elas em problema. Mel começou a chorar. “Você não precisa fazer isso”, disse Nina, “Você não precisa, nós nos livramos de toda a evidência, a enterramos bem longe, onde ninguém conseguiria encontrar.”

“Eu quero me entregar,” Repeti firmemente. “Eu a matei. Vou contar aos policiais que a culpa foi toda minha, eu a enterrei. Só me digam onde ela está e eu direi a eles onde a enterrei. Nenhuma de vocês vai ter problemas por isso, vocês não tem culpa.” Achei que tinha acabado com as lágrimas, que não tinha mais nada pra chorar, mas eu engasguei com o que queria ter dito por tanto tempo: “Eu nunca a vi.”

Elas me olharam espantadas.

“Eu nunca a vi, nem uma vez. Eu pensei...pensei que fosse só uma peça que vocês pregaram em mim, eu não queria que vocês ficassem rindo de mim...A garota no anuário, eu nunca a vi antes. Eu só fui levando.”

Nina assentiu. “Eu sempre achei estranho você ser tão fria com ela. Como se você nem reconhecia que ela estava ali.”

“Ela gostava muito de você,” Mel disse, “Ela te achava tão inteligente, achava que você iria conhecer o mundo e fazer coisas incríveis. Ela sempre falava disso.”

Senti que meu coração iria explodir. “Eu juro que nunca a vi. Tem alguma coisa errada comigo, mas eu nunca a vi ou ouvi...” Limpei a garganta. “Me mostrem onde vocês a enterraram.”

Fomos no carro da Summer, e andamos por um bom tempo, até um parque em outra cidade. Era enorme e mal cuidado, como se ninguém tivesse pisado lá em muito, muito tempo. Saí do carro e, deixada para trás por algum trabalhador, havia uma pá enferrujada. Eu a levei comigo.

Jules mostrou o caminho, adentrando cada vez mais o parque, por entre muitas árvores até chegar em uma pequena clareira. A terra não estava mexida, nem havia pegadas, mas pela mudança no rosto delas, eu percebi que era ali. Emma estava abaixo de nossos pés.

“Eu preciso vê-la,” Sussurrei. Cravei a pá no chão. “Preciso ver.”

Mel não queria ver nada, então se afastou com Nina, de volta pro carro. Jules e Summer encontraram outras ferramentas e começaram a cavar. Bolhas surgiram e estouraram em minhas mãos segurando a velha pá, mas eu continuei cavando até gotas de suor escorrerem por meu pescoço e minhas costas.

Nós três trabalhamos juntas em silêncio, desenterrando nossa amiga. De repente Summer pulou pra trás com aversão, jogando a ferramenta que estivera usando de lado. Jules fez o mesmo, pulando pra fora do buraco. Olhamos pra baixo. Summer cobriu a boca e o nariz, Jules balançou a cabeça diante da visão.

Eu? Eu ri e ri e ri, lágrimas rolando em meu rosto, rindo até sentir dor, enquanto olhava para baixo, para uma cova vazia.


(Tradução e adaptação: Elaine Oliveira. / Autor: alackofcoasters)
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